Controle do Picking e da Alocação – Tese das Mag 7

Para “controlar” ou “acompanhar” nossos riscos que nesse caso, reconhecemos que vêm das incógnitas de ROIC na IA, dependência de liquidez global (monitorar manias) e efeitos sistêmicos (provável suporte em situações de estresse, mas risco de risk-off global), fizemos um mapeamento de parâmetros objetivos para acompanharmos.
Esse acompanhamento é bastante diferente para nós: geralmente nossas horas de trabalho são dedicadas a conversar frequentemente com as empresas e participar de reuniões com outros analistas como subsídio para atualizarmos o que chamamos de “total probable outcome” das nossas empresas nesse caso nos sentimos no banco do passageiro observando o painel de instrumentos.
Apesar de diferente, nosso papel é no caso das Mag7 é bem menos operacional e mais estratégico.

1. Capex, FCF e a economia da infraestrutura.

A espinha dorsal da tese é simples: escala de capital só cria valor quando capex vira caixa e retorno sobre o capital. Para um bloco que opera como infraestrutura digital, queremos ver capex elevado, porém financiável, e um ciclo de investimento que preserva o FCF ao longo do tempo.
Nosso acompanhamento se concentra em quatro frentes: (i) a relação capex/FCF (rolling 4T), (ii) a intensidade de capex na receita total e, quando disponível, na receita de nuvem/AI infra, (iii) a depreciação (como proxy do “rastro” do capex no P&L) e (iv) indicadores físicos de execução (MW contratados, lead times de servidores/chips, ramp de data centers).
O princípio do nosso acompanhamento: incremento de capex sem captura de valor (queda de FCF, pressão de margens, depreciação acelerando) acende âmbar/vermelho; capex robusto com FCF estável/crescente mantém verde.

Observações: Onde não houver disclosure de “Receita de Nuvem”, usamos proxys (segmentos “Intelligent Cloud”, “AWS”, “GCP”, etc.) – Vale quase tudo como “sinal de alerta” Para empresas sem breakdown, priorizar Capex/FCF e Depreciação/Receita como sinais-âncora.

Controles:

A. Monitoramos Capex/FCF (LTM – métrica móvel) como sinal-âncora:

Mantemos verde quando Capex/FCF ≤ 1,2 com FCF crescente;
Passamos a âmbar entre 1,2 e 1,8 ou com FCF plano/volátil;
Tratamos como vermelho acima de 1,8 ou com dois trimestres de queda do FCF.
B. Em paralelo, acompanhamos a intensidade de capex na receita (total e, quando houver disclosure, na receita de nuvem/AI infra). Um aumento de capex sem aceleração proporcional de receita é alerta de overspend.
C. A depreciação funciona como “impressão digital” do ciclo: se cresce mais que a receita por dois trimestres ou mais, o lag entre investir e capturar valor está alongando.
D. Por fim, validamos a execução com indicadores físicosMW contratados, lead times de servidores/chips e ramp de data centers contra o guidance.
Funcionamento: sinais âmbar simultâneos acionam stop-in-size; 1 vermelho + 1 âmbar no mesmo trimestre implica corte tático do bloco.

Plano de ação nos “gatilhos” dos nossos indicadores

Como calcular (nossas convenções)

Capex/FCF (l4T) = Σ Capex (últ. 4 trimestres) ÷ Σ FCF (últ. 4 trimestres).
Capex/Receita = Σ Capex (l4T) ÷ Σ Receita (l4T).
Capex/Receita de Nuvem (quando disponível) = Σ Capex (l4T) ÷ Σ Receita de Nuvem (l4T).
Depreciação/Receita = Σ Depreciação (l4T) ÷ Σ Receita (l4T).
Indicadores físicos: comparar MW contratados / ramp / lead times com guidance ou run-rate histórico.

Para isso

Usamos rolling 4T para suavizar sazonalidade.
Revisar guidance após cada call; marcar desvios explícitos.
Registrar notas de contexto (ex.: ciclo de build-out concentrado em 2–3 trimestres pode “piorar” Capex/FCF temporariamente; não devemos tratar outliers como sendo a regra).
A disciplina aqui protege a tese: queremos capex alto que vira FCF, não capex por capex (warning signal)

2) ROIC realizado vs. ROIC “prometido”

A parte mais sensível da tese é se o investimento em infraestrutura/AI está, de fato, gerando retorno econômico.
Em outras palavras: o mercado já capitalizou um pedaço relevante do “valor presente da IA”; precisamos ver ROIC acontecer.
O nosso acompanhamento foca em (i) ROIC after-tax vs. a própria média (para controlar mix e maturidade), (ii) spread ROIC − WACC (disciplina financeira), (iii) lucro/caixa incremental por dólar de crescimento (ΔEBIT/ΔReceita e ΔFCF/ΔReceita) e (iv) qualidade do FCF (conversão de lucro em caixa, para evitar “ROIC contábil” sem caixa).

Observações: Onde não houver divulgação direta de invested capital, usar aproximações consistentes (Ativos operacionais − Passivos operacionais; ou PP&E + intangíveis operacionais + capital de giro). Para WACC, usamos abordagem simples e consistente ao longo do tempo (CAPM com beta estável + custo da dívida pós-imposto). O objetivo é sinal, não precisão acadêmica.

Monitoramos ROIC after-tax contra a própria média de 3 anos e, sobretudo, o spread ROIC − WACC como termômetro de disciplina financeira.
Mantemos verde quando o ROIC se mantém próximo da média histórica (variação até 0,5 pp) e o spread acima de +400 bps;
Passamos a âmbar quando o ROIC cai 1,5–3,0 pp ou o spread se comprime para +200 a +400 bps;
Por fim, tratamos como vermelho quedas >3,0 pp por dois trimestres com spread <+200 bps.
Para garantir que o retorno é econômico, e não só contábil, acompanhamos ΔEBIT/ΔReceita e ΔFCF/ΔReceita (rentabilidade incremental) e a conversão de NOPAT em FCF.
Lucro incremental fraco e conversão baixa por mais de um trimestre sinalizam que o capex não está virando caixa, exigindo stop-in-size ou corte tático conforme nossas tabelas acima.

Como calcular (padrão simples e reprodutível)

ROIC after-taxNOPAT / Capital investido médio

NOPAT = EBIT × (1 − taxa efetiva).
Capital investido = Ativos operacionais − Passivos operacionais (use média de dois períodos).
Spread ROIC − WACC = ROIC − WACC (CAPM simples + custo da dívida pós-imposto).
ΔEBIT/ΔReceita = (EBIT_t − EBIT_{t−1}) / (Receita_t − Receita_{t−1}).
ΔFCF/ΔReceita idem com FCF.
Conversão NOPAT→FCF = FCF / NOPAT (todos l4T).

Para isso

Padronizamos as premissas fiscais (taxa normalizada) e critério de itens não recorrentes.
Sempre verificar se um capex bulge temporário não distorce a leitura (tri de pico pode “machucar” conversão).
Guardamos as notas de exceção (ex.: período de ramp de data centers pode degradar ΔFCF/ΔReceita por 1–2 trimestres sem invalidar a tese). Se o Victor fizer qualquer ajuste relacionado a isso, criamos um node no nosso painel de monitoramento fundamentando o que optamos por fazer. Amanhã, se começar a ficar recorrente como vimos na Guar3 por anos, podemos reavaliar se não estamos nos enganando.
A disciplina aqui é a ponte entre nossa tese estrutural e a falsificabilidade que prometemos no controle e acompanhamento: mantemos enquanto o retorno acontece; reduzimos quando o retorno falha.
”Falsificabilidade”, aqui, é tornar a tese refutável por sinais objetivos. Ou seja: definimos critérios observáveis no controle e acompanhamento que, se ocorrerem, obrigam a reduzir ou encerrar a posição — por exemplo, Capex/FCF > 1,8 por vários trimestres e ROIC−WACC < +200 bps. Assim, a tese não é um ato de fé: ela se mantém enquanto passa nos testes e cai quando falha neles.

3) Juros, spreads e liquidez global (o vento de cauda/contra)

Para um bloco tratado como infraestrutura digital global, liquidez e custo de capital são o pano de fundo que sustenta (ou derruba) múltiplos.
Quando juros reais sobem rápido, spreads alargam e o dólar aperta o funding global, o re-rating joga contra.
Nosso monitoramento foca em: (i) juros reais longos (ex.: TIPS 10y e term premium), (ii) spreads de crédito (IG e HY), (iii) dólar amplo (DXY) e índices de condições financeiras, e (iv) curva de juros e sinalização de política (pricing de altas/quedas).

Observações: usamos janelas consistentes (1–2 meses para DXY; 1–3 meses para spreads; 3–6 meses para TIPS). Buscamos movimentos cumulativos e sincronizados (mais de um indicador na mesma direção).

Juros, spreads e liquidez global.
O vento que empurra (ou freia) nossa tese sopra de juros reais, spreads de crédito, dólar e condições financeiras.
Mantemos verde quando TIPS/term premium estão estáveis ou em queda, spreads não abrem de forma persistente e o DXY não aponta aperto de funding.
Passamos a âmbar quando vemos alta moderada e sincronizada — por exemplo, TIPS +40–60 bps em 3 meses, HY +75–100 bps e DXY +3–4% — o suficiente para travar aumentos e ativar proteções táticas.
Tratamos como vermelho movimentos fortes e cumulativos (ex.: TIPS +100 bps em 3–6 meses, HY +150 bps, DXY +5% com spreads abrindo), que historicamente pressionam múltiplos: reduzimos 15–20% do bloco, priorizando nomes de maior beta e mantendo o núcleo diversificado. Obviamente nesse ponto já estaremos sentindo na pele a “Realização” desses papéis muito antes disso. Todavia nossa cabeça de longo prazo deve avaliar se estamos diante de algo durador como foi os últimos 3 anos aqui no Brasil onde a nossa tese de arbitrar a compressão de Ke nos custou uns 40% de queda na cota ou se a circunstância e downside por lá é menor do que outra alternativa por aqui.
A regra é simples: dois sinais de aperto no mesmo trimestre acionam de-risk; três configuram corte tático.

Como calcular (nossas convenções)

TIPS 10y e term premium: comparar variações acumuladas em 3–6 meses.
Spreads IG/HY: usar bases semanais/mensais, monitorando tendência (não apenas prints diários).
DXY: janela 1–2 meses; confirmar com índices de condições financeiras.
Curva/política: acompanhar o implied path (ex.: número de hikes/cuts reprecificados) e a coerência com núcleos de inflação.
Para isso
Procurar convergência: juros ↑ + spreads ↑ + dólar ↑ têm efeito multiplicativo.
Diferenciar choque técnico (ex.: rebalance) de mudança de regime (sequência de prints + discurso de BCs).
Registrar contexto de resultados: selloffs com entregas sólidas pedem menos corte do que selloffs com guidance fraco.
Assim, alinhamos a tese estrutural à falsificabilidade do nosso controle e acompanhamento: aproveitamos liquidez quando ela sopra a favor e diminuímos vela quando o vento vira contra.

4) “Mania/Flows” e concentração (risco de euforia)

O objetivo aqui é separar oligopólio estrutural de euforia tática. Podemos continuar certos sobre os moats e, ainda assim, errar no timing se a dinâmica de flows (ETFs, opções, retail) e a concentração do índice esticar demais.
O bloco Mag 7 carrega beta e narrativa; quando entram entradas recordes, breadth fraca e alavancagem via calls de curtíssimo prazo, o mercado fica susceptível a “air pockets” (quedas rápidas sem mudança fundamental).
Por isso, acompanhamos: (i) concentração das Top 7 no índice, (ii) breadth (percentual de componentes acima da MM200), (iii) fluxos em ETFs de tech/semis e (iv) derivativos de curtíssimo prazo (0DTE, skew, gamma).
O princípio: núcleo estrutural se mantém, mas overlays e tamanhos táticos devem ser reduzidos quando sinais de mania se acumulam.

Notas: “ATH” = all-time high. “Skew comprimido” = prêmios de puts relativamente baixos vs. calls (menor proteção implícita). Usamos janelas consistentes (1–2 semanas para fluxos; leitura semanal de breadth e opções).

O risco aqui não é “estar errado sobre os moats”, mas ser carregado pela euforia.
Quando a concentração do índice atinge novos recordes, a breadth enfraquece, os fluxos para ETFs de tecnologia disparam e o mercado passa a operar via 0DTE/call-gamma com skew comprimido, aumentam as chances de quedas rápidas sem mudança fundamental.
Estratégia:
Mantemos verde quando concentração e flows estão em faixas históricas e a breadth permanece saudável (≥50–60%).
Passamos a âmbar quando vemos estiramento (ATH de concentração, entradas aceleradas, 0DTE elevado ou skew comprimido); isso pede stop-in-size e proteções.
Tratamos como vermelho a confluência: ATH de concentração + breadth <40%, entradas recordes por semanas e alavancagem via calls. Nesses casos, reduzimos 20–30% do overlay tático e apertamos bandas, preservando o núcleo estrutural.

Como acompanhar

Concentração: acompanhar a participação % das 7 maiores no índice (semanal/mensal).
Breadth: usar % de componentes acima da MM200 como termômetro de “largura” do rali.
Fluxos: monitorar entradas líquidas em QQQ, XLK, VGT, SMH (e congêneres), preferindo janelas móveis (2–3 semanas).
Opções: observar volume 0DTE, gamma agregado e skew (puts vs. calls).
Earnings: registrar reação vs. qualidade do guidance (texto e métricas).

Nossos “combinados”

Vamos evitar “cravar” coisas pela aparência. Evitar “chamar topo”: tratamos sinais como gestão de tamanho e proteção, não como market timing absoluto – não sabemos fazer timming e não temos evidencia de que seja inclusive possível.
Diferenciar mania focalizada (ex.: semis) de euforia ampla (tech largo) para ajustar onde reduzir. Vamos tentar fugir de “hypes”
Preferimos realizações parciais + proteções (collars/calls cobertas) em vez de zerar o núcleo estrutural.
A regra é manter a tese intacta e deixar a tática absorver a espuma: compramos infraestrutura, não euforia.

5) Regras de posição e rebalance (amarrando a tese ao processo)

A decisão de possuir o bloco exige disciplina mecânica para não transformar uma tese estrutural em aposta tática.
Nossas regras abaixo definem: (i) tamanhos, (ii) bandas e rebalance, (iii) limites por nome e overlays, (iv) circuit-breakers quando sinais saem do trilho, e (v) um “placar de regime” que agrega os Itens 1–4 (capex/FCF, ROIC, liquidez, mania/flows) e traduz o estado do mundo em ação de portfólio.
Tabela 1 — Política de tamanho (targets, bandas e limites)

Notas: os percentuais % de bloco não são controlados por aqui, mas discutidos na decisão de alocação o importante aqui é o racional: ter bandas e rebalance, quando e como fazer.

Regras de posição e rebalance. Tratamos a Mag 7 como núcleo estrutural com bandas e disciplina, não como aposta oportunista.
O bloco tem target de 10–20% do fundo, rebalanceado trimestralmente para o ponto médio do target do regime vigente.
No nível dos nomes, mantemos pesos equilibrados (Tesla fora; cautela com NVIDIA, limitada a ≤1,0× da média por nome).
O overlay tático (até 3% do fundo) só existe em regimes verdes/âmbars e zera em regime vermelho.
O drift dispara realocação automática: se o bloco sai ±20% da banda, rebalance; se um nome estoura +25% da sua cota, realiza excesso.
Concentração interna em poucos nomes é redistribuída pelos demais componentes do núcleo.
Um placar de regime agrega os sinais dos Itens 1–4 (capex/FCF, ROIC, liquidez, manias/flows) para calibrar o target do bloco (8–10% em verde; 6–8% em âmbar; 4–6% em vermelho), as bandas e a postura tática (overlays/hedge).
Por fim, circuit-breakers consolidam as condições de invalidação operacionais: fundamentos vermelhos + liquidez vermelha reduzem o bloco 20–30%; financiabilidade deteriorada em múltiplos nomes corta 20–30% do agregado; euforia de flows zera overlays e reduz táticos.
Tabela 2 — Drift & rebalance: quando e como agir

Tabela 3 — Tabela de regime (agregando Itens 1–4)

Tabela 4 — Circuit-breakers (consolidados)

Essas regras amarram a tese à execução: mantemos o núcleo enquanto os sinais fundacionais permanecem saudáveis e ajustamos tamanho e tática quando o regime muda.
É assim que a posição fica humilde, disciplinada e falsificável — e não dependente de “convicções” que ignoram a realidade do mercado.

6) Como o Victor deverá calcular (para padronizar o painel)

Capex/FCF (rolling 4T) = (Capex last 4T) / (FCF last 4T).

ROIC after-tax ≈ NOPAT / Capital investido médio

Capital investido = Ativos operacionais − Passivos operacionais (ou PP&E+Intangíveis operacionais+Capital de giro).
Spread = ROIC − WACC (use WACC simples: custo de capital próprio via CAPM + custo da dívida pós-imposto).
ΔEBIT/ΔReceita e ΔFCF/ΔReceita: variações yoy ou rolling 4T.
Sinais de liquidez: variações em bps de TIPS/term premium; Δ de spreads IG/HY; Δ% do DXY; leitura semanal de índices de condições financeiras.
Concentração e flows: participação % das Top 7 no índice; entradas líquidas semanais em ETFs tema;
Provavelmente não teremos mas já vimos o Alpine usar uma métrica de volume/abertura de gamma em opções curtas.

7) Processos

Semanal: checar liquidez/flows (TIPS, spreads, DXY, ETFs/ opções).
Mensal: atualizar Capex/FCF now-cast e run-rate de depreciação.
Trimestral: fechar ROIC/Spread, revisar guidance, aplicar regras de rebalance e circuit-breakers.
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